sexta-feira, 17 de abril de 2015

ABRIL 2015

Aniki Bóbó, era a password para entrar. Em jeito de pequena homenagem de uma tertúlia com 7 anos a um Cineasta com 106 e lá vamos nós por ali adentro. Vejamos o que nos esperava...



Kalil é um thriller de ficção que se passa algures no Afeganistão e que nos mostra o dilema da personagem principal que, em nome de alguma dignidade e sobrevivência da sua família, pondera vender o seu rim. O tráfico de orgãos humanos num local onde domina a pobreza, a miséria e se luta pela sobrevivência como pano de fundo de uma reflexão sobre a decadência humana e a podridão com máscara de promessa de um futuro melhor. 
Escrita e realizada por Paulo Zumach que não pode estar presente mas que nos presenteou com um vídeo seu onde nos introduziu ao seu filme antes da sua exibição, Kalil já ganhou dois prémios, melhor cinematografia num festival na Índia e melhor curta-metragem noutro festival em Los Angeles. 
Curiosamente não se integrou até hoje em nenhum festival português por razões de... critérios, dá para perceber? Cheirou-me a lápis azul mas já não vivemos em ditadura, pois não? Pois. Adiante.
Ficamos a saber um pouco mais deste filme na presença da sempre encantadora Isabel Pina, que dividiu a produção com o realizador e que trouxe consigo alguns membros da equipa de rodagem, nomeadamente a figurante Cátia Monteiro de Brito, a São Monteiro, figurinista e make-up artist e o Zé Pedro Alfaiate, perchista, sonoplasta e compositor. Falou-se das dificuldades inerentes a um projecto com estas características e sem budget. Encontrar um local que passasse por uma localidade afegã afinal fica mesmo aqui ao lado, na Malveira. Filmar e refilmar tudo em dois dias. Actores que falassem a língua ou que fingissem muito bem. Felizes encontros de sinergias e esforços em nome de um projecto que foi beber muita inspiração ao exemplo de Reza Hajipour, realizador iraniano que já vive em Portugal há alguns anos e que tem sido uma presença assídua nas sessões do Polvo como um dos realizadores mais produtivos de que há memória. Sangue, licenças, frio, tudo tão intenso como a própria temática desta história. Espero que passe por mais salas. Merece a equipa e o público, com toda a certeza.



A floresta das almas perdidas.
O nome é sugestivo e o trailer não lhe fica atrás.
Esta é a primeira longa metragem do José Pedro Lopes que fundou com a Ana Almeida a produtora portuense Anexo82. E o que é a Anexo 82? “Uma Ideia.”, respondeu o realizador em jeito de brincadeira com o próprio Polvo. Eu diria que é mais que isso. É uma inspiração. Miúdos novos, sangue novo que vem do norte, de onde vem o vento frio e brilhante.
José Pedro explicou que se inspirou na floresta Aokigahara que fica no Monte Fuji, Japão para explorar um tema que o sensibiliza, o suicídio e a partir desta premissa construiu um enredo que envolve duas personagens que se encontram numa floresta conhecida por ser o refúgio final de muitos suicidas. Estas personagens conhecem-se ali mas as suas intenções são bastante diferentes.
A ajudar à conversa juntam-se as actrizes Lília Lopes e Daniela Love que contam as aventuras e peripécias da rodagem deste filme ao longo de 23 dias entre Agosto de 2014 e Fevereiro deste ano na Serra do Caramulo, Porto, Águeda, Vila do Conde e o Lago Glaciar de Sanabria em Zamora, Espanha.
Já a salivar por mais, ficamos como os lobos das florestas negras, mas só sai no próximo ano em circuitos de festivais. Fica a promessa de uma história de terror com uma intriga muito curiosa e com imagens densas e marcantes. Aguardemos então...


Promessa feita, promessa cumprida.
Diogo Andrade volta este mês e traz consigo o resultado do exercício realizado durante o 8º Workshop Intensivo de Cinema Digital. Explica-nos que este Workshop intensivo não obedece nem a periodicidade nem a local e acontece pelo país em datas que se vão programando consoante a existência de convites ou a procura. Desta feita, realizado durante o festival Ficsam, em Faro ao longo de dois dias, sendo que o primeiro dia foi de formação e o segundo, de rodagem.
Mudanças de última hora devido às circunstâncias meteorológicas obrigaram a alterar todo um planeamento e assim surge este Lista de vinhos, com argumento original de João Raposo. Nestes workshops, podem surgir ideias para colaboração como outros artistas, e já houve workshops que surgiram precisamente na sequência de um convite de um artista, como uma espécie de pitch com resolução via dois dias de trabalho intenso. 
Mas falemos desta Lista. Uma história de um reencontro com um prazo de validade previsto de 15 minutos mas que se prolonga ao sabor do tinto inebriante que tinge os lábios das memórias agora revividas pelas personagens. Alguém que insiste em entrar na trama mas fica lá fora, à espera. Finais adiados, falsos finais, saboreiam-se todos os momentos.
Faltou riscar a Teresa, talvez fique para outro filme...


João Carlos Peres e Pedro Cardita, directamente do Montijo para apresentar um Festival, um Concurso e fazer um pitch, em DIY mode. Mas vamos por partes.
O FiCa, Festival de Cinema do Montijo realiza-se para a 29 e 30 Maio, sendo o primeiro dia dedicado a actividades desenvolvidas com jovens e estudantes da zona à tarde e e noite apresentação de curtas sobre e do Montijo e o segundo dia está aberto à participação de toda a gente que queira entrar na aventura, com sessão de self movies com vencedores do desafio lançado às escolas e a sessão de encerramento com curtas nacionais e internacionais. Neste momento, o festival de teor generalista ainda aceita propostas de filmes, e pelos vistos, vai aceitar até dia 27, mesmo até à última, para fechar a programação. Dia 28 fica reservado para fazer as fotocópias, dizem sorridentes.
O conceito do Concurso que só se realizará para o próximo ano é juntar cinco curta-metragens que sejam realizadas por dois realizadores de forma a que se perceba no filme a diferença da realização, ou seja, a história é contada mas a meio muda o realizador e tem que se perceber essa mudança de prespectiva, sendo que o desafio é pegar o fio à meada sem fazer um grande rolo. O argumento continua com o seguimento da história mas a visão, os olhos pelos quais a visualizamos, mudam. Um desafio interessante com a promessa de um prémio entre os 3000 e 5000 euros para o filme vencedor. Nada mau, hã?
Finalmente o pitch da comédia Maluquinho da bola, onde explicam que procuram um técnico de som, um director de fotografia e actrizes que tenham interesse e disponibilidade para filmar no final de Abril e início de Maio. Alguém se oferece? Esta malta está cheia de vontade e sangue na guelra!
Punk is not dead and lives in Montijo.


As Trutas d'Avalon é um projecto de humor que começa agora a dar os primeiros passos. Idealizada como uma série de episódios para serem divulgados na web, tem como denominador comum o humor sem filtros de censura, idealizada e escrita pelos seus próprios protagonistas.
Esta noite brindaram o público com A psicóloga e Pai inconveniente os dois primeiros episódios que já circulam por aí.
Cristina Basílio e Jorge Picoto juntam-se a um dos apresentadores da noite Paulo Duarte Ribeiro e juntos vão explicando as vantagens que há em escrever para actores quando se é actor. A equipa é pequena e o trabalho gigante mas o resultado parece cativar muita gente e é óbvia a satisfação na cara dos criadores. É preciso muito empenho para levar a cabo a tarefa de criar, filmar e apresentar semanalmente um episódio, mas há que embarcar nesta lúcida loucura. E se juntarmos no caldeirão a cumplicidade óbvia de profissionais que se conhecem muito bem e uma dose grande de tonteria com uma pitadinha de disparate, a mistura torna-se explosiva e nascem episódios vindos da brumas do non sense e do puro encantamento. Perlimpimpim, tragam mais Trutas, se faz favor.


E de um trocadilho com um mundo perdido da magia passamos para um mágico mundo encontrado. É a vez do outro apresentador desta tertúlia, o Paulo Prazeres chamar até ao palco as outras partes do trio maravilha, Patrícia Guerreiro e Marzia Braggion, da equipa da DROID-id para falar um bocadinho deste segundo capítulo sobre o Boom Festival, a We Are Love webseries. A colaboração com o Boom não é de agora e já no ano passado, Paulo Prazeres pode apresentar ao Mundo o resultado dos esforços da sua equipa maravilha, traduzidos no incrível documentário em duas partes The alchemy of Spirit.
Depois do primeiro episódio, a curta documental The Feminine, temos esta noite a oportunidade de ver Permaculture, o segundo da lista que explora o conceito de auto-sustentabilidade do festival. Porque há muito que o Boom deixou de ser um festival exclusivo do transe procurado por malucos que só pensam em consumir drogas durante uma semana até cair para o lado. O Boom continua a ganhar prémios internacionais como bandeira da auto-sustentabilidade e de sensibilzação ecológica. Como vemos no doc, há plantações de vegetais biológicos onde as pessoas podem ir colher a sua comida e o espírito de ajuda e partilha respira-se no ar.
O Boom é um espaço de reflexão, bem estar, diversão, paz, arte, talvez até uma utopia feita realidade, um mundo ideal para muitos, cada vez mais a ver pela procura. São viajantes de todas as partes do Mundo que de dois em dois anos rumam até Idanha-a-nova à procura da magia que só se encontra no Boom. Ao ver as imagens, os sons, os testemunhos dos organizadores e dos boomers, percebo perfeitamente porquê.


E ainda imbuída neste espirito do We are One, escrevo esta crónica, sobre uma sessão tentacular com alguns problemas técnicos que se tornaram irrelevantes perante a comunhão de ideias e filmes que por ali passaram. Lá fora a chuva não caía como promete o ditado de Abril mas mil ideias já me passavam pela cabeça... que tal uma espécie de Boom mas de rock de fusão afegã numa Floresta cheia de almas das que se perdem e das que se encontram, que servisse Trutas d'Avalon, tivesse Lista de Vinhos para todos os gostos, até para os Maluquinhos da bola e tudo. Dava um grande workshop intensivo! Com direito a prémios e tudo! Revolution for the people!
"É impressão minha ou vi ali uns rockeiros a dançar ao som de J-Lo?", pensei eu. A noite já vai longa e podia estar a alucinar. Mas não, está mesmo a acontecer e eu estou ali no meio. É rir, minha gente, é rir que do riso ainda não nos pedem imposto. Nem das tristes figuras que fazemos nestes filmes felizes. É rir!
Viva o Polvo! Viva!

Sloosh

Ass.: M.



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